quinta-feira, agosto 31, 2006

Abelhas e anzóis

Tenho apenas em mãos
esse sentimento obtuso
e como um inseto intruso
ele perfura a minha pele
se instaura como um grão,
ou um ídolo numa caverna.

Faço oferendas e canções
para essa flor interna,
amo-a tanto que meu coração
fica magro, se torna pequeno
diminuto e sorridente,

pois nasce em minha boca
no lugar de todos os dentes
flores, sim! Todas doces, ternas
e sufocantes.

Marina Ráz

domingo, agosto 27, 2006

Algo precioso

Meus músculos dançam
uma doce valsa serena
lançam meus braços ao redor
de uma pequena arena
de cor e odores sensíveis
que são invisíveis e delicados,

como relicários que guardam
segredos não contados
ou recados sem destinatários.

Deixe-me contar esse soluço
que me sobrecarrega tanto
enquanto eu expulso
todos os medos com espanto,

essas relíquias esquecidas
que se apoderam de tudo.

Marina Ráz

sexta-feira, agosto 25, 2006

Praças, fumaça e andaimes

Sinto-me como um tijolo
}soluçando{ entre dúzias
de outros suportando tolo
todo peso cambaleando,

ligados nesse concreto
fraco, desse corpo reto
lógico e cômico.

Sou lugar de descanso
uma passagem do tráfego
de botas, chinelos e sapatos
num baile sujo e trágico.

Um pedaço de pedra,
a paisagem concreta
atrapalhando o retrato.

Marina Ráz

sexta-feira, agosto 18, 2006

Acene novamente

Imensidão, todas as passagens
são paredes brancas, vejo tantas
mensagens riscada nos muros;
códigos, pedidos de socorro, mas
são todas sussurros em coro.

Onde me levam meus passos
para calabouços, cadafalsos?
Sento-me no chão e espero
meu corpo se enraizar no asfalto,
pois é tudo que quero. Que
o mundo me tome de assalto.

Marina Ráz