quarta-feira, dezembro 30, 2009

Em minhas pálpebras,

Sem perto ou distante
no instante repleto
de asas e agulhas
minha casa, minha fuga.

Eu me afogo e sinto
o fogo no ar que respiro.
Enquanto me houver saliva
e meu coração em carne viva

estou armada até os dentes
me protejo de tudo na vida.

Marina Ráz.

terça-feira, dezembro 22, 2009

AS MENINAS

As calcinhas ali no varal, choravam molhadas, cada qual vizinhas. Mas se sentiam sozinhas e sempre dadas. Tinham cores, todas elas; Bordo, Rosa, Vergonha e Sem-vergonha.A mais rosa delas, dizia:

- Tia. Adoro bonecas, são tão bonitas, magras, sedosas. Gulosas essas pragas, beberam todo o chá as sapecas.

Uma que já tinha pouca linha e já passado, desses laçados de boneca. Não era mais moleca, era bordo:

- Ai que horror! Viram só vizinhas? Aquela calcinha, de cara vermelha, ela acha que é rainha e abelha. Desse cortiço, esse viço feminino, de trapos pequeninos.

Pobre da Vergonha, ali tristonha, ainda sonha malícia; Que havia, aprendido sem querer, coisa da idade precisa saber.

- Ai vergonha, ponha seus sonhos cá. Dizia Sem-vergonha com tua cor que ninguém sabe qual é, cor de sem-vergonha.

- Tonha, não há o que sonha, cada homem sabe que não importa cor, por sermos só pra tirar.

Marina Ráz.

sábado, dezembro 19, 2009

Todas as coisas


Dizer. Quem sabe. Acalme, mate. Ou ao menos; torture. O que quero. Digo: palavras, bendita de vocês; exorcizem. Olá.

Faço uma prece:

Toco, toco a margem da sua boca com meu dedo. Como que com medo da miragem eu agarro um desejo. E os contornos me coagem a não dizer, sem dormir meus olhos e renovar. E eu você não existimos somos extintos.

Se imortais seremos aos meus olhos, porque não, e sim somos extintos. E como elementos de um reflexo, de nós mesmos, cada pedaço reflete um cego. Uma fenda na memória de Deus, para ainda sim sermos nós mesmos.

Mas quem é você? Existe mesmo? Quem sabe não. Nunca existiu. Aconteceu na minha vida como acontecem chuvas, furacões, erupções vulcânicas como acontece Deus na vida das pessoas. Muitos usam de sofrimento para exprimir o sublimo de seus espíritos alguns a alegria, outros nada. Esses por acaso passam pela vida, enquanto nós dois, e afirmarei sempre isso, seremos a vida.

Posso estar errada. O maior dos desacertos. E louca. A maior das alienadas. Mas não podia deixar de dizer. Antes que tarde.

Devo ser multidão quando penso em você, multidão, pois o que sinto por você não cabe numa pessoa só. Surpreendente que caiba dentro de um único coração, o meu.

Marina Ráz.